quinta-feira, 13 de setembro de 2007

►1

De que se fala quando se fala da Língua?
Da nossa, pobre, retraçada por ressaibos coloniais a coberto de sentimentos de culpa nacionais, por incúria institucional na mesma onda e outras, de mau uso generalizado – falado e escrito – que mais?
Estão a tirar-nos a poética do inútil? Só isso? Não acredito. Pela diferença entre fato e facto e porque ainda há quem diga “fac-tual”.
Transformam-na em retalhos regionais, deixa de haver padrão, referência, orientação. O Deus dos pormenores ou Deus nos pormenores.
Por via disso, aos poucos, a língua brasileira deixou de ser uma espécie subtil de português – com a sua variante fonética oficializada pela academia.
Tudo, menos subtil – nem sutil, quanto mais...
A culpa é do tupi, do francês, do italiano, (do japonês?) das língua africanas e até do português arcaico – que por lá ficou e por cá se foi (por isso mesmo é arcaico).
Não posso deixar de pensar que os parnasianos tinham razão ao querer manter o padrão europeu como orientação.
Nas teses “brasileiristas” há alguma confusão entre dialecto e diferentes pronúncias.
Nas teses “portuguesistas” há algum colonialismo... é, e contra factos não há argumentos. Tal com há ex-colónias.
Mesmo no Brasil alguém ganhou uma guerra e alguém a perdeu. A “sílaba tónica” transfigurou-se em “a sílaba tônica” só... não faltam acentos?
Em brasileiro, a secura de o ler, afasta-se da melosidade de algumas das suas pronúncias – o Rio de Janeiro continua liiiindo... aquele abraço!
Querem acentuar esta totalmente de acordo com a fala?
Melhor:

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
(C. Drummond de Andrade)

Amigos meus dizem que pareço possuído de uma "identidade assassina".
Talvez, mas tenho para mim, que ele há coisas que até vão lá por decreto,

mas não só.

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
(Manuel Bandeira)

P.s.: Eu acho que é identidade que não quer ser assassinada. Éramos 200 milhões, agora quantos quantas vezes somos? Eu sei que me não expliquei muito bem mas, atenção, só estou a falar de ortografia.

Sem comentários: